16 de janeiro de 2010

A GLÓRIA DO MINISTÉRIO CRISTÃO

A GLÓRIA DO MINISTÉRIO CRISTÃO

LEITURA BIBLICA:- 2 Coríntios 1.12—7.16

Paulo abre a seção principal da carta com uma breve defesa do seu comportamento em relação à igreja de Corinto (1.12—2.17). Isto o leva a comentar extensivamente caráter do seu ministério apostólico (3.1—6.10). Algumas palavras a respeito da sua atitude em relação à igreja e o seu relacionamento com ela concluem a seção (6.11—7.16)

PAULO REVELA AS SUAS INTENÇÕES, 1.12—2.17

Nesta parte da carta, a principal preocupação de Paulo, à medida que ele expressa aos coríntios os seus motivos e a sua conduta, é assegurar a eles que com simplicidade e sinceridade.., temos vivido... convosco (12). Ele foi sincero (1.12-14). A razão pela qual ele não os visitou (1.15-22) foi a consideração por eles (1.23-2.4), e por aquele a quem eles deverão perdoar (2.5-11). Na verdade, ele foi até a Macedônia (2.12-13). Por tudo isso o apostolo tem motivos para louvar a Deus (2.14-17).

1. A Sinceridade da Sua Correspondência (1.12-14)

Estes versículos representam uma transição. Paulo pode pedir a ajuda dos coríntios em oração (11) porque (12), contrariamente à acusação dos seus adversários, a sua vida tem sido pura e os seus objetivos transparentes entre eles. Esta afirmação de integrida- de também prepara o caminho para uma defesa adicional da sua conduta (cf. 15).

A glória (12, literalmente orgulho; “exultação”, Berk.) de Paulo, baseada no testemunho dado pela sua consciência, é que ele não tem vivido (não tem se comportado), como os seus adversários, na dimensão de (en) “uma sabedoria carnal, ou dominada por motivos humanos” (1 Co 1.20; 2.6; cf. 3.1-3). Em lugar disso, tem vivido (en) na graça de Deus com (en) “santidade3 e sinceridade de Deus” (ASV). Ambas são qualidades divinas que, como dádivas de Deus, são capazes de caracterizar o comportamento de Paulo.

“Simplicidade”, ou santidade, ressalta a “pureza moral”5 do comportamento exterior de Paulo, e sinceridade, a transparência (2.17; 1 Co 5.8) dos seus motivos interiores.

Esta sinceridade se estende também às suas cartas, pois o que eles já sabem (13, lêem) dele é coerente com o que eles reconhecem (“compreendem”, RSV; cf. 6.9; 13.5) que ele é. Não há um segundo sentido. Paulo espera que eles “compreendam completamente” (RSV), da mesma maneira como eles reconheceram já em parte (14). O apóstolo deseja que eles possam ser capazes de se gloriar dele, assim como Paulo se gloriará deles (1 Ts 2.19), no Dia do Senhor Jesus (o dia do juízo; cf. 1 Co 1.8; 5.5; 1 Ts 5.2).

O tema principal de Paulo, em vista das críticas, é que o conhecimento deles possa ser tal que possam se gloriar dele tanto quanto ele se gloria deles, no dia em que todos os segredos forem revelados (14).Assim, Paulo conclui a defesa geral da sua integridade pessoal nestes versículos, primeiramente com o testemunho da sua consciência (12) e, em segundo lugar, com o reconhecimento parcial dos coríntios da autenticidade do seu ministério apostólico para com eles (13-14).

2. A Integridade dos Seus Planos de Viagem (1.15-22)

Como ele não tinha cumprido o seu itinerário anunciado (1 Co 4.19; 16.5-6), alguns dos coríntios desafiaram a integridade de Paulo. Antes de explicar a verdadeira razão para a sua mudança de planos, Paulo primeiramente nega a acusação de inconstância e passa a fundamentar a sua integridade como ministro de Cristo na integridade do próprio Deus. “Deus é fiel” (18, ASV, KJV).

Com base na confiança (15) que Paulo expressou em 12-14, ele quis visitá-los tanto a caminho da Macedônia como na sua volta (16) e ser ajudado por eles na sua viagem7 à Judéia (veja o mapa 1). Ele desejava que eles tivessem “o beneficio de uma segunda graça” (15, NEB, lit. ou seja, “os benefícios de uma segunda visita”). A expressão é peculiar. Wendland observa que “uma tremenda consciência de poder se ressalta nestas palavras. O apóstolo é quem traz a divina graça, e a sua presença na igreja significa uma ocasião em que a graça está em ação (veja Rm 1.11; 15.29)”. Paulo queria ser uma bênção para eles tanto na ida quanto na volta da sua viagem.

No entanto, para que não ocorresse uma visita “em tristeza” (2.1, RSV; cf. 13.1-2) à igreja, Paulo achou que seria melhor mudar os seus planos. Tal mudança de planos, de acordo com os seus críticos em Corinto, era evidência da leviandade (“inconstância”, 10) do caráter de Paulo (17). O apóstolo julga esta conclusão como inacreditável. E [apelando novamente para essa confiança, v. 15], deliberando isso, usei, porventura, de leviandade? (17).

A forma (meti) desta pergunta e a pergunta mais abrangente que se segue antecipam uma resposta negativa. Ele não discute o fato de que modificou os seus planos. Mas nega enfaticamente que faça os seus planos “como um homem mundano poderia fazê-los, de modo a dizer sim e não ao mesmo tempo” (Barclay; cf. Mt 5.37; Tg 5.12).

Tomar estas decisões segundo a carne (5.16; 10.2; 11.18) estaria em oposição direta com a vida “segundo o Espírito” (Rm 8.4-8, RSV) ou “na [en] graça de Deus” (12) que ele professa, e que a igreja experimentou nele. Assim, Paulo faz do seu apelo final pela integridade das suas relações com os coríntios um apelo à integridade do próprio Deus. “Antes, como Deus é fiel,1’ a nossa palavra para convosco não foi1’ sim e não” (18).

Paulo continua, nos versículos 18 a 20, a defender o seu caráter com um argumento, escreve Denney, que “poderia ser repetido por um hipócrita, mas nenhum hipócrita jamais poderia tê-lo inventado”.’3 A sua suposição básica é que o caráter de um homem é transformado por aquilo a que ele dedica a sua vida. Foi o Filho’4 de Deus, Jesus Cristo,” que foi pregado (19) entre os coríntios, não somente por Paulo, mas também por Silvano (At 15.22, 27; 1 Ts 1.1; 2 Ts 1.1; 1 Pe 5.12), e Timóteo. Este Cristo provou estar no meio deles de uma vez por todas (gegonen) para ser o grande “Sim” de Deus (Hb 13.8). Paulo, o servo, deve ser como o seu Mestre, e o Mestre é o verdadeiro Filho do Seu Pai, o Deus fiel. Assim, a palavra de Paulo (18) para eles dificilmente seria indigna de confiança.

E o “Sim” de Deus que Paulo proclama em Cristo Jesus (cf. Rm 15.18), pois Ele é o “Sim” a todas quantas promessas há de Deus (20). Todas as promessas messiânicas do Antigo Testamento são cumpridas na pessoa de Cristo. “Por ele” (ASV) é o Amém (Ap 3.14) que os coríntios pronunciam na sua adoração pública (1 Co 14.16), para glória de Deus por meio do ministério de Paulo e dos seus colaboradores. E devido ao ministério de Paulo que eles, pela sua experiência com Cristo, são capazes de louvar a Deus abertamente pela prova da fidelidade do apóstolo para com eles em Jesus Cristo.

Como Hughes diz: “Enquanto o ‘Amém’ deles comprova a fidelidade de Deus, é ilógico suspeitar da fidelidade do apóstolo que os ensinou a fazer isso! Paulo, de uma maneira muito sutil, confronta os coríntios com a própria incoerência deles.

A seguir, vemos a frase final da defesa que Paulo faz da integridade dos seus planos de viagem. E um apelo a uma experiência presente e progressiva, confirmada por três atos decisivos e simultâneos do Espírito Santo na sua vida (2 1-22). Na prática, Paulo fundamenta a sua confiabilidade como apóstolo na sua união dinâmica com Cristo: é em (eis) Cristo (21) que Deus confirma (ou estabelece; 1 Co 1.8; Cl 2.7) continuamente o ministério de Paulo com os coríntios. Como membros do corpo de Cristo, as qualidades pessoais do Senhor são transmitidas a eles e, por sua vez, eles são capazes de reproduzir em suas próprias vidas as ações de Jesus.’° Confirma (bebaion) é um termo legal que significa um relacionamento como sendo legalmente indiscutível ou indestrutível.

Paulo aplica a ação decisiva do Espírito, expressa pelos três verbos no aoristo ungiu... selou.., deu, primariamente, mas não de modo exclusivo, ao seu próprio chamado e comissionamento (At 9.15-18).

Ele foi ungido pelo Espírito como Cristo o foi (lit., o Ungido; Is 61.1-3; Mc 1.10-11; Lc 4.18-19; cf. At 26.17-18), com poder e para dar um testemunho efetivo (At 1.8; 5.32; veja Jo 3.34; 15.26-27). No Antigo Testamento, profetas (1 Rs 19.16), sacerdotes (Lc 16.32) e reis (1 Sm 15.1) eram ungidos para desempenharem os seus cargos.

A unção traz consigo os conceitos da autenticidade e da confiabilidade (cf. 1 Jo 2.20, 27). Paulo foi selado (22) pelo Espírito de Cristo (3.17; Rm 8.9), que deixa gravada a sua própria imagem (Rm 8.29; Cl 1.15) na personalidade humana. Este selo do Espírito Santo garante a autenticidade do seu relacionamento com Deus (Ef 1.13; 2 Tm 2.19; Ap 9.4; cf. Rm 4.11; 1 Rs 21.8) e preserva-o neste relacionamento (Ef 4.30; veja Dn 6.17). O selo é a marca de identificação e de segurança (Ed 9.4; Et 3.12; Jr 32.10-14).

Em terceiro lugar Paulo recebeu o penhor22 do Espírito no seu coração. Ele fala do dom do Espírito (At 2.38; 15.8-9) sob a figura legal do primeiro pagamento, o que é garantia do pagamento total. E uma bênção “da mesma espécie”,23 as “primícias do Espírito” (Rm 8.23; cf. 5.5). Uma parte do futuro já se faz presente e, assim, torna-se a garantia do futuro. Pelo uso da palavra penhor Paulo conecta o Espírito ao cumprimento das promessas de Deus (22), à vida ressuscitada dos redimidos (5.5), e à herança da redenção (Ef 1. 14). Lightfoot sugere que a metáfora penhor contém outra idéia correlata.

O destinatário do dinheiro do penhor não apenas assegura a si mesmo o cumprimento do pacto por parte de quem paga, mas também garante que ele mesmo cumprirá sua parte no pacto. Pelo próprio ato da aceitação do pagamento parcial, ele se obriga a uma determinada reciprocidade. O dom do Espírito não é apenas um privilégio, mas também uma obrigação.., o Espírito tem, podemos dizer, uma garantia sobre nós.

A defesa feita por Paulo da integridade das suas intenções como ministro de Deus agora está concluída. A fidelidade de Deus (18) comprovada por Cristo (19-20) pode ser verificada na sua vida e no seu ministério pelo Espírito (21-22), que os coríntios também já experimentaram. A vista da integridade de Deus assim percebida, certamente podem entender quão infundadas eram as suas acusações.

3. A Razão Pela Qual o Apóstolo Não Foi (1.23—2.4)

Paulo então retorna ao seu plano original de visitar Corinto (1.15-16), que ele não se sentiu livre para concretizar. Esta mudança de planos não se deveu a um defeito na sua integridade pessoal, mas sim à sua profunda preocupação por eles. Quando Paulo esclarece os seus motivos, recebemos uma visão reveladora do coração de um verdadeiro ministro de Deus.

O apóstolo reforça a verdade da sua explicação com um juramento solene. Invoco, porém, a Deus por testemunha sobre a minha alma (23). Ele está conclamando a Deus para dar apoio ao seu testemunho, para acrescentar o seu testemunho ao de Paulo, de acordo com o princípio escriturístico de que um testemunho sem apoio não é verdadeiro (cf. Jo 5.31-37). No versículo 19, ele tinha mencionado duas testemunhas além dele mesmo. A frase de Paulo também pode querer dizer que, consciente dos escrutínios de Deus acerca dos segredos do seu coração, ele não ousaria mentir (cf. 11.31; Rm 1.9).

A verdadeira razão pela qual ele “não tem até agora ido” a Corinto27 foi para poupar os membros daquela igreja de um exercício desagradável da sua autoridade apostólica. Ele queria lhes dar algum tempo para o arrependimento, para que a sua vinda pudesse resultar em alegria (cf. 1 Co 4.31).

Mas por medo de que uma possível conclusão da sua explicação pudesse ofender estes coríntios sensíveis, Paulo se apressa em assegurar-lhes que ele não tem domínio sobre a fé deles (24; cf. 4.5). A fé precisa ser livre. Os ministros são na verdade cooperadores do gozo dos cristãos. “O reino de Deus é... alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). Além disso, ele não tem necessidade de dominá-los, porque é pela fé que eles estão em pé. Esta expressão, no entanto, pode mais provavelmente implicar que eles estão firmes na sua fé. O que é significativo nestes versículos, a respeito do caráter de Paulo, é que “ele não era um daqueles que amam ser os que censuram as faltas dos outros” nem “um daqueles que adoram dominar”.

Não foi apenas para poupá-los, mas também para o próprio bem deles (2.1) que

Paulo deliberou (ekrina, cf. 1 Co 2.2) não ir mais ter com eles em tristeza (1).29 Uma segunda visita a Corinto feita antes da composição desta carta, mas não registrada no Livro de Atos, acabou sendo uma experiência muito dolorosa tanto para Paulo como para a igreja. Ele não tinha o desejo de precipitar novamente uma situação como esta, a me- nos que o dever apostólico o exigisse completamente. Pois à luz da sua convicção de que a tarefa básica do ministério é a promoção da alegria mútua (cf. 1.24), como o seu coração poderia se alegrar por aqueles que ele tinha contristado (2)? E na qualidade de pai espiritual deles (1 Co 4.14), por que o apóstolo deveria sentir tristeza por aqueles que deveriam alegrar-me (3)?

Assim, ao invés de ir visitá-los em uma ocasião tão inoportuna, Paulo enviou uma “carta triste” (3-4), escrita em (ek) muita tribulação e angústia do coração... com (dia) muitas lágrimas. Qualquer tristeza que a carta pudesse causar seria superada pelo seu objetivo duplo. O primeiro deles era o despertar da alegria, tanto no apóstolo quanto no povo. Pois se ela cumprisse o seu objetivo de motivar o arrependimento em relação a Paulo e ela realmente conseguiu isso (cf. 7.8-9) Paulo poderia se regozijar. E ele escrevia confiando que a sua alegria seria compartilhada pelos coríntios. Em segundo lugar, ele pretendia revelar a única base válida para a sua autoridade sobre eles como ministro: o amor que ele sentia especialmente por eles.

A angústia e o amor caminham juntos no coração daquele cujo ministério está unido em espírito com Aquele que foi um “homem de dores, experimentado nos trabalhos”, que “tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si” (Is 53.3-4). Aqueles que desejarem uma participação no ministério de Cristo entre os homens, devem procurar seguir o seu método. “Confie nisto: nós não iremos fazer os outros chorarem pelo que não choramos; nós não faremos com que aquilo que não toca o nosso coração primeiro, mais tarde venha a tocar o coração dos outros”.33 Este é o princípio da obra de Deus neste mundo, uma obra à qual Deus Pai submeteu o seu próprio Filho.

Aquele que estiver disposto a ministrar aos homens em nome de Cristo, não poderá fugir deste padrão.

4. O Perdão Para o Transgressor (2.5-11)

A “carta triste” foi motivada pela ofensa de uma determinada pessoa da igreja de Corinto. Esta pessoa deveria ser completamente perdoada por todos. Mas Paulo, na sua delicada consideração pela dignidade e pelos sentimentos dos indivíduos, nem sequer menciona o ofensor, nem a ofensa. Ele somente diz o que é verdadeiramente necessário para as suas relações com a igreja. Os coríntios sabiam o que ele queria dizer, mas é difícil para nós termos certeza.

O ofensor tradicionalmente tem sido identificado com o homem incestuoso de 1 Coríntios 5. 1-5 No entanto, isto se encaixa melhor na situação se ele for encarado, como fazem alguns intérpretes modernos, como alguém que fosse culpado de uma ofensa pessoal a Paulo. Quando o apóstolo fez a sua segunda visita a Corinto para tratar dos problemas surgidos devido a intrusos hostis (11.4, 20), este homem agiu como o líder da oposição e fez com que a ocasião fosse muito penosa para Paulo (2.1). Assim, estes versículos tocam o âmago da dissensão entre Paulo e os coríntios.

Embora a ofensa tivesse sido muito pessoal, Paulo se recusou a considerá-la desta forma (5). Como uma moderna versão parafraseia este versículo, “qualquer ofensa que tenha sido feita, não foi feita a mim; até certo ponto, para não ser severo demais, foi feita a todos vocês” (NEB). As palavras em parte se referem a vós todos; assim a versão RSV apresenta “em parte... a todos vós”. A expressão para vos não sobrecarregar é parentética. A afronta foi realmente à integridade de toda a igreja, embora uma parte dela não visse as coisas desta forma.

Como a igreja, reagindo à carta de Paulo, tinha tomado medidas para punir o ofensor, o apelo de Paulo é por misericórdia a favor do homem que era seu inimigo (6). A repreensão feita por muitos (“a maioria”, RSV) foi suficiente para a situação. “A maioria” sugere uma minoria que não estaria de acordo com as medidas disciplinares, ou que possivelmente sentia que a igreja não tinha sido suficientemente severa, O que Paulo quer dizer é que o arrependimento adequado está em evidência, o que permite que a igreja agora deixe de lado a disciplina e passe a perdoar (cf. Cl 3.13) e consolar o ofensor (7).

O objetivo da punição não era a vingança, mas sim a restauração. O homem precisa ser reintegrado antes que a sua demasiada tristeza o leve ao desespero, afastando-o, conseqüentemente, da comunhão redentora da igreja. Assim, o pedido urgente de Paulo é que confirmeis para com ele o vosso amor (8). Mas Paulo não ordena o perdão com base na sua autoridade apostólica. Em lugar disso, ele insiste, como um companheiro cristão, de acordo com o caráter do amor cristão.

Tal demonstração de disciplina e amor era realmente a verdadeira razão pela qual Paulo tinha escrito a “carta triste” (9). O seu objetivo, como ele o expressa, era por essa prova (“colocá-los à prova”, NASB) saber se sois (este) obedientes em tudo (cf. 7.15; 10.6). o que estava em jogo na reação deles à carta do apóstolo era o reconhecimento apropriado da autoridade apostólica de Paulo, como também a sua integridade como uma “igreja de Deus” (1.1).

Como os coríntios tinham se unido a Paulo na sentença de condenação, ele se une a eles na concessão do perdão (10). Suas palavras literais são: E a quem perdoardes alguma coisa também eu; porque o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo.36 Em um “parêntesis gracioso”, Paulo indica a profundidade de se ter um espírito semelhante ao de Cristo (cf. Lc 23.34), pois ele fala da ofensa como tendo sido meramente hipotética. O perdão estava no seu coração desde o início. Ele tinha perdoado e esquecido por amor a eles, como aquele que vive na presença de Cristo (cf. 2.17; 4.2; 1 Co 4.5; Gl 2.20).

O que Paulo tem precisamente em mente quando diz por amor de vós é que não sejamos vencidos por Satanás (11). Pois se ele e a igreja mantivessem o seu perdão longe do ofensor, Satanás poderia perfeitamente obter novamente o controle sobre o irr, mão cristão através da sua tristeza excessiva (cf. versículo 7). Mas igualmente prejudicial seria a presença de um espírito áspero e rancoroso nos seus próprios corações. Por tal espírito Satanás poderia defraudá-los no seu “gozo e paz em crença” (Rm 15.13), e no vínculo do amor (Cl 3.14) que deve caracterizar a igreja como uma comunhão salvadora.

Por este resultado eles seriam pessoalmente responsáveis diante de Cristo, pois Ele é o maior motivo e o maior exemplo para o exercício do perdão. Paulo sabia que o inimigo se aproveitaria e tiraria vantagem de um sentido restrito de justiça, e da tristeza do homem arrependido. Portanto ele adverte: não ignoramos os seus ardis (“desígnios”, RSV). O apóstolo quis dizer: “Não sejamos hesitantes com o nosso perdão e as garantias do amor, para que Satanás não use o nosso bem contra nós, para o mal”. Promover a desunião dentro da congregação é uma das maneiras que Satanás usa para impedir que os objetivos de Cristo sejam alcançados.

Dentro do contexto da igreja “o perdão é uma necessidade essencial”: 1) para o bem daqueles que fazem o mal, 5-7; 2) para o bem-estar espiritual daqueles cujo papel é perdoar, 8-10; e 3) para a integridade da comunhão da igreja, 11.

5. A Viagem a Trôade e à Macedônia (2.12-13)

Ao retornar ao tema do seu itinerário, Paulo fornece aos coríntios provas adicionais de que a sua mudança de planos não indica um caráter vacilante nem uma falta de amor por eles da parte do apóstolo. Ele tinha vindo à cidade costeira de Trôade (veja o mapa 1) com o objetivo básico de pregar o evangelho de Cristo (12).

Ali ele descobriu que a porta (cf. At 14.27; 1 Co 16.9; Cl 4.3) da oportunidade evangelística tinha sido aberta para ele, no (en) serviço do Senhor. “Havia liberdade total para falar, e muitos estavam dispostos a ouvi?’.’8 Agostinho comenta que esta é “uma demonstração evidente de que até mesmo o início da fé é uma dádiva de Deus”.

Paulo pretendia se ocupar desta missão até que Tito (13), seu “companheiro e cooperador” grego (8.16, 23; cf. 7.6-7; Gi 2.1; 2 Tm 4.10; Tt 1.4), voltasse de Corinto com as notícias da situação ali (7.6-15). Mas ele estava tão dominado pela preocupação com o bem-estar espiritual dos coríntios que não conseguiu encontrar descanso (“relaxamento, alívio” da aflição; cf. 2.4; 7.5) para o seu espírito. Então ele “se despediu” (Goodspeed) dos seus novos convertidos, e prosseguiu em direção à Macedônia, esperando encontrar Tito no caminho.

Tão grande era a sua ansiedade pelos coríntios que, pelo bem deles, o apóstolo havia abandonado uma oportunidade missionária promissora. Certamente, eles não poderiam agora questionar a integridade de sua ligação com eles. Ele privara outros pela consideração que Unha por eles, um fato sobre o qual eles deveriam refletir, sentindo-se envergonhados.

Paulo certamente não era um estóico insensível com um espírito calmo que nada poderia perturbar. Ele era uma pessoa humana completa, um cristão que pelo bem da igreja ficava emocionalmente envolvido (cf. 2.4). Paulo sentia tristeza, derramava lágrimas e, às vezes, também era dominado pela ansiedade.

Graças a Deus pelo triunfo em Cristo (2.14-17)

O sentimento de gratidão a Deus (14) jorra do coração de Paulo com a idéia do triunfo do evangelho em Corinto. Esta expressão dá início a uma idéia que continua até 7.5. Ali, Paulo novamente retoma a narração da sua ansiedade a respeito dos coríntios que foi aliviada pelo encontro com Tito. Embora interrompa a narrativa, esta expressão, com as suas explicações elevadas, fornece musculatura para os ossos estruturais do argumento.

Paulo une duas imagens para retratar o curso triunfal do evangelho através do ministério apostólico. E raças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo4° e, por meio de nós, manifesta em todo lugar o cheiro do seu conhecimento. A primeira metáfora relaciona-se à procissão vitoriosa de um triunfante general romano.

E difícil ter certeza se ouso da metáfora é somente geral, com Paulo ocupando um lugar de honra, ou se ele vê a si mesmo especificamente como um cativo conquistado em tal procissão. O significado resultante também é dúbio. Se ele for um cativo, a natureza do cativeiro é tal que no seu sentido mais profundo também triunfa por Paulo triunfo em Cristo porque é Deus quem triunfa sobre ele! A vitória do evangelho é de Cristo, e o apóstolo é privilegiado por compartilhar dela.

Faça de mim um cativo, Senhor,

E então eu serei livre.

Force-me a entregar a minha espada,

E eu serei um conquistador.

A segunda metáfora é a de uma oferta queimando em um altar de sacrifício, enviando um aroma agradável a Deus (cf. Gn 8.20; Ex 29.18; Ez 20.41; Ml 3.4; Ef 5.2; Fp 4.18). Este cheiro (ou sabor, osmen) é o conhecimento de Cristo que se manifesta em todo lugar graças ao ministério apostólico. A razão para isso é que nós somos o bom cheiro [euodia] de Cristo, agradável a Deus nos que se salvam e nos que se perdem (15). Estar “em Cristo” era o caráter do seu ministério, quer os homens recebessem quer rejeitassem o evangelho que eles proclamavam. E este evangelho era a fragrância de Cristo!

O efeito da pregação do evangelho possui dois lados. Aqueles que resistem descobrem que é cheiro [osme] de [eh] morte para [eis] morte; mas, aqueles que o aceitam descobrem que é cheiro [osme] de vida para vida (16). Existe um conceito rabínico da Lei como uma droga cujo efeito pode ser fatal ou vitalizador, dependendo do seu enfoque. De maneira similar, a visão de Paulo do ministério do evangelho da graça é que este é inevitavelmente uma sentença de morte para alguns e uma oportunidade de vida para outros (cf. 4.3; Lc 2.34; 1 Co 1.18; Fp 1.28). O mesmo ato de salvação que destruiu a morte para os salvos, tornou a morte irrevogável para aqueles que se perdem.

A responsabilidade vinculada a uma proclamação que seria “do começo ao fim”45 uma ocasião de morte ou de vida para os homens oprimia Paulo. Ele somente podia dizer: E, para essas coisas, quem é idôneo? (16) Que tipo de ministério seria adequado para desempenhar tal tarefa?

“O nosso!”, responde Paulo. Porque (gar) nós não somos, como muitos, falsificadores (adulteradores)da palavra de Deus (17; cf. 11.13). A imagem é, original- mente, a de um taberneiro que mistura o vinho ruim com o bom para aumentar os seus lucros (cf. Is 1.22, LXX). Esta imagem contém duas idéias. A primeira diz respeito aos motivos; eles fazem do apostolado um negócio para obter ganhos pessoais.

A segunda implica no método; eles adulteram o Evangelho com exigências mais palatáveis e perspectivas limitadas, com a finalidade de atender aos seus próprios interesses. A primeira leva à segunda. Na verdade, adotar o ministério por motivos de ganho pessoal, ambição ou vaidade já significa adulterá-lo. Aquele que faz a Palavra servir aos seus propósitos em lugar de ser um servo da Palavra modifica o próprio caráter do evangelho.

Contrária a estes “mascates” (RSV) “que tentam obter o preço que puderem e modelar a Palavra de Deus de acordo com isto”,48 é a absoluta sinceridade do ministério de Paulo (cf. 1.12; 12.19).

Ele fala como de [eh] Deus na presença de Deus (17; cf. 4.2; 12.19); ele fala de Cristo (cf. 1.14; 5.17). “Ele é aquele”, comenta Plummer, “que ensina com a abertura e com a perfeição que vem do Deus que o inspira; e na presença de Deus ele trabalha como é condizente a um membro de Cristo”. Nisto reside a sua suficiência (cf. 3.5-6), que ele logo irá expor mais claramente (3.1-6.10). E o caráter do evangelho que qualifica tanto os motivos quanto o método do seu ministério.

Nestes versículos, Paulo nos apresentou “O Ministério Apostólico”:

1) O segredo, 14-15a;

2) A solenidade, 15b-16a; e

3) A sinceridade, 16b-17.

A medida que o apóstolo revela as suas intenções aos coríntios (1.12—2.17), a integridade do homem de Deus é vista 1) na sua própria consciência, 1.12; 2) por sua conduta quando está entre os seus convertidos, 1.13-14; 3) no caráter do Deus que ele proclama, 1. 15-22; 4) por sua preocupação com aqueles aos quais ele serve no evangelho, 1.23-2.11; e 5) no triunfo do evangelho por meio do seu ministério, 2.14-17.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

Comentário Bíblico Beacon

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